Dados de 2023 apontam que 70% de todos os roubos de cargas no país ocorreram nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro

Roberto Hunoff

Foto Banco de Imagens, Divulgação

Em um cenário de melhorias econômicas e desafios na segurança no Brasil, o roubo de cargas se torna um fator relevante que impacta negativamente as cadeias de suprimentos. Ao longo de 2023, o Brasil registrou 17.108 roubos de cargas, o que representa aumento de 4,8% em relação ao ano anterior. Os dados constam do relatório anual desenvolvido pelo Centro de Inteligência da Overhaul.

A empresa de software de gerenciamento de riscos e visibilidade da cadeia de suprimentos apresenta uma análise detalhada dos roubos de cargas, utilizando robôs, que fazem a busca dessas ocorrências, até mesmo as não notificadas, e com dados oficiais de fontes públicas. Com base nos dados coletados, especialistas em gestão de riscos estimam crescimento de 1,1% no roubo de cargas para este ano, totalizando 17.298 eventos.

Em 2023, os resultados econômicos do Brasil superaram as expectativas de especialistas e do próprio governo. Contrariando a projeção de uma inflação de 5,42%, o país encerrou o ano com taxa de 4,62%. Os juros básicos da taxa Selic, que eram esperados em 12,25%, ficaram em 11,75% e o Produto Interno Bruto teve crescimento de 3%, quando a previsão era inferior a 1%.

Esse desempenho positivo se deve à recuperação do consumo, ao setor de serviços e à agricultura, que contribuiu para um resultado acima do esperado e, com isso, mais produtos foram transportados. Para este ano, a tendência é que o setor de logística movimente ainda mais as estradas. Com isso, os desafios na área da segurança se tornam ainda maiores. “Além do prejuízo financeiro causado pelo valor da carga roubada, há também o aumento das taxas de seguros, interrupções no fornecimento, gastos extras com frete, altos investimentos em segurança e restrições operacionais”, explica o gerente de inteligência da Overhaul Brasil, Reginaldo Catarino.

 Concentração

O centro de inteligência da empresa detectou a maior concentração de roubos de carga (88%) na região que abrange os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. A informação corrobora a percepção de que as áreas de maior desenvolvimento econômico e logístico são alvos preferenciais dos criminosos.

No entanto, uma mudança significativa em relação ao ano anterior foi observada nas demais regiões do país. O Sul ocupou a segunda região com mais ocorrências de roubo de carga, posição anteriormente ocupada pelo Nordeste. A inversão é atribuída às diferentes estratégias adotadas pelos criminosos e ao aumento da vigilância e segurança nos estados nordestinos.

São Paulo e Rio de Janeiro se mantiveram como os principais contribuintes para os altos números de roubo de carga no país. Juntos, responderam por 70% de todos os casos registrados em 2023. Porém, na comparação a 2022, houve leve diminuição. São Paulo, sozinho, teve 4% a mais de ocorrências.

Dias e horários

A terça-feira é o dia da semana com maior incidência de roubos de carga, representando 22% do total. “Essa mudança em relação a 2022, quando quarta e quinta-feira lideravam os índices, reflete a concentração de movimentação de cargas durante os dias úteis e oferece oportunidades para os criminosos explorarem vulnerabilidades na segurança das operações logísticas”, analisa Reginaldo Catarino.

Em relação aos horários, os roubos de carga continuaram prevalecendo pela manhã, entre 6h e 12h, representando 50% dos casos. No entanto, houve aumento significativo de roubos no período da tarde, das 12h às 18h, que passou de 6% para 31% em 2023. Ainda segundo o especialista, essa alta pode ser explicada pelo fato de os criminosos esperarem os motoristas fazerem paradas para descanso e, assim, terem a oportunidade de abordá-los sem levantar suspeitas.

Os tipos de produtos mais visados pelos criminosos tiveram pouca variação em relação ao ano anterior. Os definidos como diversos continuaram sendo os mais roubados, representando 43% dos casos, seguido por alimentos e bebidas, com recuo em comparação a 2022, e tabaco. Houve aumento de quatro pontos percentuais nos roubos de eletrônicos, ressaltando a atratividade desse tipo de carga para os criminosos.

Crimes mais comuns

 Um dado preocupante revelado pela análise é o aumento dos roubos em ruas e rodovias, o que demonstra disseminação dos diferentes tipos de crimes em que as gangues atuaram em 2023. O sequestro de carga continua sendo a ação criminosa mais recorrente, representando 84% dos casos. A fraude, que envolve indícios de facilitação de funcionários diretos ou indiretos das operações de transportes, registrou aumento significativo de nove pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Para o executivo, os dados evidenciam a necessidade de ações mais efetivas por parte das autoridades e das empresas para combater o roubo de cargas no Brasil. “Medidas como o aumento da segurança nas estradas, investimento em tecnologia de rastreamento e inteligência artificial, e ações de conscientização e treinamento para os profissionais envolvidos no transporte de mercadorias são fundamentais para reduzir o problema”, defende.