Proposta estima redução de até 70% das emissões de gases de efeito estufa e atração de R$ 600 bilhões em investimentos
Redação TranspoData
Foto ANPTrilhos, Divulgação
A Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, grupo composto por mais de 50 organizações dos setores empresarial, acadêmico e da sociedade civil, apresentou ao governo federal um plano com 90 propostas voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa na atividade. O material foi entregue durante o seminário Brasil Rumo à COP30, em Brasília, e projeta a possibilidade de cortar até 70% das emissões do setor até 2050.
O estudo, intitulado “Coalizão dos Transportes – Como transformar o setor de transporte em um contribuidor ativo para a redução das emissões brasileiras”, organiza as propostas por modais. Aponta que a mudança de rota no setor de transportes é essencial para que o Brasil atinja as metas climáticas.
Atualmente, o setor responde por cerca de 47% do consumo de energia no país e mais de 60% dos combustíveis fósseis. A meta proposta até 2050 é inverter a lógica atual, dobrando a participação de modos mais eficientes, como ferroviário e aquaviário, e reduzindo significativamente a dependência do transporte rodoviário de carga e passageiros movido a diesel.
A ampliação de modos de transporte de baixo carbono, como trilhos e hidrovias, estímulos à renovação de frotas urbanas com ônibus elétricos ou híbridos, incentivo à produção e distribuição de biocombustíveis avançados, e políticas de financiamento voltadas à mobilidade sustentável são alguns dos eixos que o plano propõe para uma reorganização profunda da matriz de transportes brasileira. A estimativa é que as ações propostas possam atrair cerca de R$ 600 bilhões em investimentos ao longo das próximas duas décadas.
Para a diretora executiva da ANPTrilhos, Ana Patrizia Lira, o setor de trilhos representa uma das principais alavancas para essa transformação. “A mobilidade urbana de massa, movida por energia elétrica e com baixa emissão, é uma ferramenta imediata e eficaz na construção de um sistema de transporte mais sustentável. Participar desse plano é também reafirmar o papel protagonista do transporte sobre trilhos nessa agenda”, afirmou.
Além da entrega do plano estratégico, o seminário “Brasil Rumo à COP30” também abriu espaço para debates técnicos e institucionais. A diretora defendeu a ampliação da oferta de transporte coletivo estruturante no Brasil, com ênfase para o setor metroferroviário.
Ela chamou atenção para dados que apontam queda no uso do transporte coletivo nos últimas anos e a consequente elevação da dependência do individual. “Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes mostra que, em 2017, tínhamos 50% de transporte coletivo e 50% de individual; hoje estamos em 64% individual contra 36% coletivo. É importante que façamos algo diferente. O transporte de passageiros sobre trilhos faz parte dessa mudança na medida em que temos externalidades positivas que são necessárias para que haja essa migração do transporte individual para o coletivo. É a questão de um transporte com regularidade, mais rápido, confiável e sustentável”, ressaltou.
A executiva também reforçou a importância de se estabelecer uma autoridade metropolitana para integrar os sistemas existentes nas grandes cidades. “A gente não pode ver o sistema de transporte público como algo dividido entre os modos de transporte. É importante que tenhamos uma governança integrada que vai trazer essa visão única de planejamento de longo prazo. Ainda trará integração tarifária, que no fim das contas, vai buscar menor tarifa para o usuário”, assinalou.